“Portugal tem de apostar ainda mais na eletrificação da economia”

Esta a opinião de Maria João Rodrigues, da Lisboa E-nova, acrescentando que os investimentos previstos na produção renovável poderão contribuir para o decréscimo dos preços junto do consumidor

“Apesar de ser conhecida como pessoa do solar, não considero que nos devamos focar apenas numa tecnologia, mas sim num ‘mix’ que faça sentido”, começa por dizer, à conversa com a Energiser, Maria João Rodrigues, diretora técnica da Lisboa E-Nova, Agência Municipal de Energia e Ambiente de Lisboa. A responsável defende a eletrificação da economia em Portugal porque, destaca, “o país tem recursos naturais particularmente adaptados à produção renovável desta forma de energia”.

CRESCE APOSTA NA ENERGIA SOLAR

O investimento na captação da energia solar em Portugal ainda está uns passos atrás daquele que foi feito nos setores hídrico e eólico. Para incentivar o crescimento desta área, o governo português teve de criar mecanismos de garantia para as empresas, de forma a conseguirem condições mais favoráveis de financiamento junto dos bancos e outras entidades. Em meados deste ano, foi lançado um leilão para o estabelecimento de 24 campos de produção de energia solar, que teve 64 candidatos. A procura excedeu nove vezes a oferta e o preço médio da energia elétrica na produção, oferecido pelos proponentes, foi significativamente inferior ao estabelecido pelo estado português.

Como consequência, os preços da eletricidade poderão cair junto do consumidor no futuro. É isso que Maria João Rodrigues espera, acrescentando, com prudência, que “ainda estamos muito longe desse resultado, dado que até haver uma nova estabilidade no mercado irão decorrer muitos anos”. É preciso lembrar que o da Península Ibérica é relativamente pequeno no contexto europeu, e só melhores ligações, que permitam fazer fluir a energia de e para Portugal e Espanha, contribuirão para a existência de um mercado de grande volume, mais concorrencial. “É esse o esforço que a União Europeia está a tentar concretizar”, diz a diretora técnica da Lisboa E-Nova, mas ainda há alguns países interessados em que isso não aconteça.

OUTROS DESAFIOS

O potencial de produção de energia renovável em Portugal não termina nos setores hídrico, eólico e solar. “Também existe biomassa, energia geotérmica e geotérmica de baixa entalpia [N.R.: baixa temperatura], que pode ser usada nas cidades, por exemplo, para climatização”, salienta Maria João Rodrigues, que participou recentemente na Conferência Mobilidade e Transição Energética, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. E ainda temos a probabilidade de aproveitar a energia de ondas e marés. Ou seja, existem muitas fontes renováveis com potencial de aproveitamento em Portugal.

Para além da produção, há outros desafios que os portugueses devem superar, no lado do consumo. Um dos deveres das pessoas, empresas e instituições é que o façam bem: escolhendo os seus equipamentos elétricos com critério, melhorando o desempenho energético dos edifícios e criando soluções inteligentes de tráfego, sobretudo em cidades como Lisboa e Porto. Também se pode fazer uma separação cuidada dos resíduos que produzem, algo que está a acontecer cada vez menos e que, segundo Maria João Rodrigues, se deve à falta de investimento em educação e comunicação. A nomeação de Lisboa como Capital Verde Europeia 2020 está a contribuir, segundo esta responsável, para uma maior aposta da cidade nestas áreas. Afinal, não basta promover a mudança. É um trabalho que tem de ser continuado de forma empenhada, pelo menos até que ocorra de forma definitiva.