Portugal quer parceria com Espanha para cluster do lítio

O Plano de Recuperação e Resiliência português prevê uma parceria com Espanha para a criação de uma fileira ibérica na indústria do lítio e das baterias. A Europa vai precisar 60 vezes mais deste mineral até 2050

Portugal quer estar na linha da frente da transição energética, incentivar a transição digital e promover uma melhor e mais eficiente utilização dos recursos. Esta ambição é bem clara no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), ainda em consulta pública, apresentado recentemente pelo Governo. Este plano, desenhado com base na visão estratégica do professor António Costa e Silva, está enquadrado nos instrumentos financeiros europeus de apoio à crise provocada pela pandemia da covid-19, um pacote de estímulos que a nível europeu ascende a um total 1,8 biliões de euros. Portugal poderá aceder a uma fatia (a maior de sempre) deste valor: 50 mil milhões de euros em subvenções, a fundo perdido e cerca de 14 mil milhões de euros em empréstimos. Os três eixos de atuação definidos pelo Governo são a “resiliência”, que arrecada 61% do montante global, seguindo-se a “transição climática” e a “transição digital”.

No documento fica expressa a vontade, e a necessidade urgente, do país integrar projetos colaborativos com outras regiões europeias nomeadamente de natureza infraestrutural. O PRR revela assim que Portugal pretende participar de forma mais ativa em projetos de integração transfronteiriça, nomeadamente com Espanha, não só pela proximidade física, mas também pelo nível de integração das duas economias. Um desses projetos é o da fileira integrada de lítio e o fabrico de baterias, através do qual se conseguirá dar uma dupla resposta às estratégias europeias para as matérias primas e para a questão da produção das baterias. Esta fileira industrial para será assente em inovação, quer dos processos, quer dos produtos, com um bom aproveitamento, através de técnicas de green mining, e que permitirá a construção e reciclagem de baterias elétricas para automóveis.

Portugal tem capacidade para atrair tecnologia e empresas

“Não só as principais jazidas de lítio se encontram próximas da fronteira, como Portugal possui a capacidade de atrair a tecnologia e empresas interessadas na sua refinação. O passo intermédio entre a refinação e a produção de baterias é a fabricação de células de lítio”, pode ler-se no documento. As principais jazidas nacionais de lítio encontram-se sobretudo na zona norte e centro do país, sobretudo nas áreas raianas.

Além da exploração, já muito discutida, uma vez que Portugal tem boas reservas lítio, e apoiada por Bruxelas, o PRR anuncia a aposta do país num passo intermédio para produção das baterias: a fabricação de células de lítio. Através do INL, Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, uma parceria entre os dois países, sediado em Braga, estão a ser desenvolvidos projetos de criação de células de última geração que poderão entrar na fase de testes em breve. “Por fim, a construção de baterias e a aposta da indústria da sua reciclagem (indo ao encontro da proposta do novo regulamento das baterias que defende uma análise de ciclo completo de vida dos produtos) podem com facilidade instalar-se nas regiões de fronteira entre Portugal e Espanha, beneficiando ainda da forte presença da indústria automóvel nos dois países”, refere o documento.

Recorde-se que o lítio é um mineral importante para a produção de baterias de vários tipos, como as baterias de telemóveis, de tablets e cada vez mais fundamental na transição energética, pois é necessário para a produção das baterias dos automóveis elétricos e ainda poderá ser uma solução viável para o armazenamento da energia elétrica de fontes renováveis, onde Portugal tem uma forte presença.


BRUXELAS DEFENDE EXPLORAÇÃO DE LÍTIO EM PORTUGAL

A Comissão Europeia defende a exploração do lítio em Portugal, pois tendo o país uma das maiores reservas europeias, poderá desta forma contribuir para a redução da dependência externa de matérias primas essenciais. Dados de Bruxelas asseguram que a Europa vai precisar 18 vezes mais de lítio até 2030 e 60 vezes mais até 2050, meta para a descarbonização do Velho Continente.