Galp Petroleum Engineering Open Days debate energia sustentável

“Advancing Sustainable Energy” foi o tema da 5.ª edição do Galp Petroleum Engineering Open Days, um evento Galp focado na indústria do petróleo e do gás

“Este evento é já um clássico”, começou por dizer o CEO da Galp, Carlos Gomes da Silva, na sessão de encerramento do Galp Petroleum Engineering (GPE) Open Days de 2018. Durante dois dias, os cerca de 300 participantes, nacionais e estrangeiros, tiveram oportunidade de dar as suas opiniões e debater sobre o tema central desta quinta edição: a sustentabilidade ambiental, tendo em conta a transição energética, os desafios da indústria à escala global e o seu papel no desenvolvimento sustentável.

Para Thore E. Kristiansen, membro do Conselho de Administração e da Comissão Executiva da Galp e responsável pelo negócio de E&P, esta foi “uma oportunidade fantástica para discutir, colaborar e aprender uns com os outros”. Até porque, como reforçou no seu discurso de abertura, há que “encontrar soluções sustentáveis para o futuro”, nomeadamente ao nível da descarbonização da sociedade com foco na inovação, e a “nossa indústria”, garantiu, “não só não é parte do problema como também contribui com soluções”.

Thore E. Kristiansen, responsável pelo negócio de E&P na Galp

O GPE Open Days realizou-se em Lisboa, nos passados dias 2 e 3 de julho, e contou com quase 50 oradores. Entre os temas mais falados, destaque para o da transição energética e a abordagem à mesma de David Hobbs, diretor de investigação da KAPSARC – King Abdullah Petroleum Studies and Research Center. A sua apresentação, “Short and long term balancing of the oil market through the energy transition” trouxe uma visão de curto e longo prazo sobre a forma como o mercado do petróleo se vai comportar, e equilibrar, após o choque dos últimos anos, a nível do abastecimento, do preço, do investimento. Referiu também que “o paradigma da segurança energética está a mudar, desde a disponibilidade física à volatilidade do preço” e que como tal há que proteger as economias.

Hobbs destacou ainda que o futuro representa uma incógnita e ao mesmo tempo um grande desafio, devendo por isso ser encarado com humildade e baixas expectativas de modo a valorizarem-se as pequenas conquistas que se possam vir a alcançar. Por outro lado, no que concerne às soluções energéticas de que dispomos hoje, deixou subliminarmente a mensagem de que não se deve “cortar a relação com o que se tem sem encontrar primeiro algo melhor”. Para combater as alterações climáticas, disse, a atenção deve estar não na fonte de energia fóssil em si mas nas suas emissões, salientando o papel fundamental do investimento em tecnologia nesta matéria.

Harrie Vredenburg, diretor da Universidade de Calgary

O conferencista Harrie Vredenburg, diretor na Universidade de Calgary (Canadá), para quem estes eventos são “de extrema importância, não só para os negócios como também para os decisores políticos”, abriu o segundo dia com a palestra “Post-Paris: Renewables or gás-fired power?”. Vredenburg começou por lembrar à assistência os pressupostos do Acordo de Paris, negociado em 2015 por 195 países, durante a conferência das Nações Unidas sobre o clima (COP21), cujos objetivos são os de desbravar caminho em direção a uma economia mundial de baixo carbono para mitigar as alterações climáticas de origem humana, o que inclui o compromisso de limitar a subida da temperatura através da redução dos gases de efeito estufa.

Este académico, fundador do MBA em “Global Energy Executive”, expôs exemplos de boas práticas que estão a ser desenvolvidas no Pacific Centre for Renewable Energy & Energy Efficiency e aplicadas em concreto na ilha Nuku’alofa, Tonga, e em Fiji, passando em revista algumas das principais energias alternativas, da eólica aos painéis solares ou à biomassa, ressaltando, no entanto, os problemas de intermitência de algumas, como a da energia solar em países ou alturas do ano com menos incidência de luz do sol. Para resolvê-los, a chave pode estar no gás natural. “É pouco provável”, referiu, “que o preço do gás natural aumente e no futuro vai certamente competir com as renováveis: são duas grandes fontes de energia que vão dominar no futuro”.

Brian Sullivan, diretor-executivo da IPIECA

Tendo ainda como eixo o Acordo de Paris, Brian Sullivan, diretor-executivo da IPIECA, uma associação global da indústria de petróleo e gás para assuntos ambientais e sociais, trouxe ao debate o papel da indústria global de petróleo e do gás no desenvolvimento sustentável, bem como a visão da IPIECA sobre os desafios a enfrentar quanto às mudanças climáticas, não apenas no contexto do Acordo de Paris como também dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Sullivan mencionou ainda o relatório "Mapeando a indústria de petróleo e gás para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: Um Atlas", lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), pela Corporação Financeira Internacional (IFC) e pela IPIECA, que ilustra como a indústria de petróleo e gás pode apoiar e contribuir de forma mais eficaz para a consecução dos ODS através dos papéis e responsabilidades dos principais interessados, além de fornecer exemplos de boas práticas e conhecimentos existentes e recursos disponíveis na indústria.

“A transformação do sistema de energia é desafiante mas possível”, salientou o especialista. O futuro requer quase o dobro da energia de hoje para cobrir as necessidades do crescimento da população e ao mesmo tempo reduzir as emissões respeitando o Acordo de Paris, “o que exige aumentar a eficiência, poupar energia, e reduzir as emissões na produção e no uso da energia, recorrendo a fontes alternativas”, acrescentou, pondo em evidência a importância da colaboração entre entidades públicas e privadas: “Há que criar compromissos entre eles, desde governos, sociedade civil, universidades, serviços e indústria, com o fim de encontrar soluções sustentáveis para o problema das alterações climáticas”.

ENERGIA: PROCURA NÃO VAI PARAR

Este é de facto um ponto sensível que sobressaiu nestes dois dias abertos da Galp. Como enfatizou Carlos Gomes da Silva, “a energia é hoje o que faz mover o mundo. Sendo incontornável a sua relevância na sociedade atual, tem-nos permitido viver mais e melhor pelo que a procura é, e será, cada vez mais elevada”. Em 30 anos, espera-se que a população mundial aumente dos mais de sete mil milhões atuais para dez mil milhões de pessoas em 2050, pelo que as necessidades de energia não vão parar de aumentar nas próximas décadas. O desafio adivinha-se gigantesco e complexo: “Sabemos que a procura vai aumentar, mas não sabemos exatamente o que vai acontecer, pelo que vamos ter de trabalhar por cenários e focados em três contribuições importantes para o desenvolvimento: inovação, conhecimento e confiança”.


Tendências e prognósticos

Baseado na 19.ª edição do relatório World Energy Markets Observatory, uma publicação anual da Capgemini que monitoriza os principais indicadores dos mercados energéticos, Philippe Vié, vice-presidente daquela consultora francesa, apresentou no GPE Open Days um panorama geral sobre a indústria das Utilities: “From Global Energy Transition to Elon Musk, Robots and RenTechs”. Começando por afirmar que o sector enfrenta níveis de disrupção elevados, a principal mensagem que ressaltou da sua palestra é a necessidade, aparentemente paradoxal, de o sector partilhar e reduzir custos, por um lado, e de investir em inovação, por outro. “Observam-se grandes transformações nos mercados da energia, em geral, e no das commodities, em particular, pelo que é impossível fazer previsões para o futuro”, no entanto, a necessidade de adaptação das empresas do sector e dos seus modelos de negócio revela-se incontornável.
Na visão da Capgemini, são cinco os prognósticos para este ano:
1. Os mercados de energia serão desafiados pelo crescimento das RenTechs (impacto disruptivo das tecnologias de energia renovável e demais empresas do sector).
2. Os consumidores considerarão comunidades de produção de energia para autoconsumo versus utilities tradicionais.
3. Elon Musk (Tesla Motors) comprovará o potencial da tecnologia aplicada às baterias para armazenamento de energia.
4. A inteligência artificial e a robótica irão restabelecer a confiança dos consumidores nas utilities.
5. Os programas de transformação das utilities irão acelerar e começar a dar frutos.