Matriz para o trabalho do futuro

Flexibilidade, produtividade, liderança e requalificação são requisitos para empresas e colaboradores se adaptarem aos novos tempos. Os resultados de um estudo da Adecco fornecem algumas pistas

Pouco mais de cem anos depois da gripe espanhola, o mundo foi apanhado de surpresa por uma pandemia que, durante quase três meses, obrigou a parar o planeta, as empresas, os negócios, as viagens e a vida do dia-a-dia tal como os conhecíamos. Aos poucos, e em tempo recorde, as empresas foram obrigadas a adaptar-se à nova realidade enviando os colaboradores para casa e conseguindo o impensável: tornar o teletrabalho uma realidade numa escala nunca antes vista e, na maior parte dos casos, aumentar a produtividade. “Assistimos a uma rápida mudança de muitos dos padrões de trabalho existentes e percebemos a urgência na necessidade das empresas serem ágeis para se adaptarem aos desafios, mantendo a sua atividade”, afirma Vânia Borges, diretora de recursos humanos da Adecco Group em Portugal.

Esta realidade, transversal a todo o mundo, foi analisada em profundidade pelo estudo 'Reset Normal', realizado pela Adecco em oito países (Austrália, França, Alemanha, Itália, Japão, Espanha, Reino Unido e estados Unidos), e que ouviu mais de 8000 colaboradores de empresas, entre os 18 e os 60 anos. Os resultados não deixam margem para dúvidas: nada será como dantes no que ao trabalho diz respeito com a larga maioria dos inquiridos a exigir, para um futuro próximo, uma maior flexibilidade de horários e garantia de mobilidade, a avaliação da produtividade por objetivos e não por horas trabalhadas, uma liderança mais assente na inteligência emocional e na empatia, e reconhecendo uma grande necessidade de requalificação para muitas profissões e funções mais 'tradicionais'. Em suma, o estudo conclui que a conjugação destes fatores será a matriz para o sucesso das empresas no futuro que está já aí. “A mudança que existiu foi abrupta e foi implementada com as limitações existentes e sem preparação prévia. O desafio agora, é estabelecer novas formas de trabalho com base na experiência dos últimos meses”, defende Vânia Borges.

MAIS CONFIANÇA E COLABORAÇÃO

A experiência forçada pela pandemia ajudou também, em muitos casos, a reforçar a relação entre colaboradores e chefias. A confiança no trabalho realizado à distância foi um elemento fundamental de ambos os lados e abriu portas para a continuidade. De acordo com o estudo da Adecco, 80% dos inquiridos acredita que o seu empregador garantirá um melhor ambiente de trabalho após a pandemia, e 73% defende que os governos terão um papel importante a desempenhar na definição de novas regras contratuais e de trabalho que respeitem as necessidades de empresas e colaboradores. Em todo o mundo, mas também em Portugal, “nunca se legislou tanto, em tão curto espaço de tempo, e tal aconteceu devido à necessidade dos governos serem rápidos na tomada de decisão, permitindo às empresas também adaptarem-se a esta mudança”, diz a diretora de recursos humanos da Adecco. Para Vânia Borges, “a forma como damos continuidade a esta mudança está agora nas mãos de todos os intervenientes - empresários, governos, colaboradores, associações de trabalhadores. Só mantendo esta colaboração e vontade de desenvolvimento será possível ter um mercado de trabalho mais flexível que permita a todos ajustes rápidos que garantam sempre os direitos e deveres de colaboradores e empresas”.