“Acredito que os sneakers podem ser uma ferramenta de transformação social"

À frente de uma marca de calçado desportivo que se destaca pela sua forte componente de responsabilidade social e ambiental, João Esteves acredita que os sneakers, além de um negócio, podem ser uma ferramenta de transformação. A história inspiradora de um projeto inovador que a Energiser teve o privilégio de conhecer e que agora partilha

A Soraia tem 24 anos e muitos sonhos por concretizar. Quem sabe a criação de uma marca de roupa desportiva ou ser modelo comercial. O tempo o dirá. Cresceu num bairro social, em Alfragide, e frequentava a Academia do Johnson – uma associação local que se dedica a apoiar crianças, jovens e famílias em situação de vulnerabilidade –, quando, em 2021, esta instituição lhe proporcionou a oportunidade de expandir horizontes. Movida pela curiosidade e o interesse em experimentar coisas novas, não hesitou em inscrever-se no iMAGINE, um programa de capacitação para jovens em risco de exclusão. “Consegui desenvolver várias habilidades, nomeadamente na área do empreendedorismo, da comunicação, da criatividade e estabelecemos uma relação muito boa que ainda hoje se mantém”, conta uma Soraia sorridente e confiante num amanhã melhor.

São jovens como a Soraia, que fez parte do primeiro grupo de formandos, os Originals, do Bairro do Zambujal, que o programa iMAGINE procura ajudar a desenhar um futuro mais risonho

O percurso desta jovem que atualmente trabalha numa empresa de segurança privada cruza-se com a história inspiradora de João Esteves, o empreendedor por detrás da DiVERGE, uma marca de sneakers personalizáveis que nasceu em 2019 para gerar impacto social e ambiental.

A lógica, desde a primeira hora, foi, por um lado, a de valorizar o indivíduo, permitindo que cada um possa criar os ténis que representem os seus gostos e “o que lhe vai na alma”, por outro, contribuir para combater a sobreprodução da indústria da moda, comercializando as suas criações apenas sob encomenda. “Queremos ser uma marca onde toda a gente possa ser quem é e divergir do que acontece no mundo da moda, com as suas produções gigantes que geram desperdícios e consumos de recursos brutais. Ao produzir só por encomenda conseguimos minimizar a nossa pegada”, explica o empresário que, ao mesmo tempo, quis colocar a sua plataforma ao serviço da comunidade, depois de a pandemia ter acelerado o espírito de entreajuda, sobretudo junto dos mais desfavorecidos: “Neste caso, de uma demografia que apresenta riscos muito concretos que são os jovens entre os 16 e 24 anos de idade, razão pela qual criámos o iMAGINE, o nosso programa de impacto social que, na prática, utiliza os sneakers como um instrumento de transformação”.

O programa de capacitação para a empregabilidade e o empreendedorismo já passou por diversas localidades do país, entre as quais Sines, onde decorreu a sessão que aqui registamos com um grupo de jovens em risco de exclusão mas muito interessado e participativo. Agora, o objetivo é chegar a cerca de 600 jovens nos próximos dois anos e meio

Como funciona o iMAGINE

João Esteves já começou a percorrer o país para levar mais longe o iMAGINE e aquilo em que acredita, até por experiência própria: “é sempre possível adquirirmos novas competências e mudar de vida”. As sessões de formação tiveram início na Grande Lisboa, onde vive, passaram por Felgueiras, Torres Vedras, e a Energiser foi encontrá-lo no Centro de Artes de Sines, onde, no momento desta reportagem, estava a decorrer uma formação com um grupo de jovens em risco da região. Aproveitámos para assistir e descobrir um pouco mais sobre o programa para o qual os jovens, à semelhança da Soraia, são convidados a participar.

O objetivo é dar-lhes ferramentas para personalizarem os seus próprios sneakers com o fim último de lançar na plataforma, e em nome próprio, os que eles desenharam. Uma coleção única pela qual cada um dá a cara e que conta a sua história. Sobre as vendas alcançadas, recebem uma comissão. Em troca, têm de passar por um processo de capacitação para a empregabilidade e o empreendedorismo para terem noções de como esse mundo funciona, de como se devem comportar e de como se podem lançar em projetos profissionais ambiciosos e serem bem sucedidos. “É isto que é relevante”, explica João Esteves, um licenciado em Gestão que antes de se tornar empreendedor aos 43 anos teve uma carreira de sucesso ligada à Comunicação e Marketing e às marcas de grandes empresas de vários setores de atividade em Portugal e no estrangeiro.

O basquetebol, modalidade que João Esteves ainda pratica sempre que pode, foi a inspiração para a criação de uma marca de carácter desportivo, mas com ambições ambientais e sociais, a DiVERGE

A ideia de criar uma marca desportiva como a DiVERGE é uma inspiração de duas paixões antigas, o basquetebol e os sneakers. “É o meu desporto favorito e que tenho praticado ao longo de toda a minha vida e sempre adorei sneakers. Depois, quando trabalhei na Sport Zone comecei a perceber que a maneira como nos vestíamos tinha mudado e que progressivamente fomos sendo capazes de tornar o nosso vestuário, mesmo em condições formais ou profissionais, mais confortável. A inspiração desportiva foi sendo mais evidente no calçado, ao ponto de invadir os nossos guarda-roupas, e foi nessa altura que vi nos sneakers personalizáveis uma oportunidade de negócio por não haver muitas marcas a apostar nesse nicho. Criei a minha própria assinatura e o passo seguinte foi tornar-me empreendedor”, revela o CEO da DiVERGE que se dantes tinha uma vida superocupada, agora não tem mãos a medir.

Além de dirigir a sua própria empresa, o iMAGINE está a entrar em velocidade de cruzeiro com a pretensão de chegar a 600 jovens formandos nos próximos dois anos e meio, depois de ter visto aprovada uma candidatura ao Portugal Inovação Social, uma iniciativa pública de apoio a projetos com impacto social que lhe garante o financiamento para desenvolver mais 57 ciclos do programa por todo o país. A Fundação Galp é mecenas deste programa de impacto local em Sines e Santiago, que visa a redução das desigualdades através da educação, estando incluída no seu programa das Comunidades de Energia de Sines e Santiago da Fundação Galp.

O programa iMAGINE não se limita a desenvolver habilidades e a transmitir conhecimento. De acordo com o criador do projeto, João Esteves, “construímos com cada um dos jovens uma relação duradoura, até para sabermos como estão a progredir, procurando ajudá-los a ultrapassar dificuldades”