Energia mais limpa, futuro mais longo

Portugal consta da lista da ONU como um dos países mais sustentáveis do mundo, com a produção de energia a partir de fontes renováveis a crescer ao longo dos anos. Estará a nação mais perto da neutralidade carbónica?

Já todos percebemos que o clima está a mudar e que, se nada for feito, as condições de vida irão deteriorar-se nas próximas décadas. O apelo à mudança de hábitos, a um consumismo mais consciente e à utilização de energias renováveis tem ganho eco, mas há ainda muito por fazer. Portugal foi o primeiro país a assumir o compromisso de atingir a neutralidade carbónica até 2050, mas a questão põe-se nestes termos: estaremos a fazer o suficiente?

Se tivermos em conta um relatório recente da ONU sobre desenvolvimento sustentável para 2019, os dados apontam para um cenário relativamente positivo. Segundo o mesmo, o país ocupa a 26.ª posição na lista dos 162 países mais sustentáveis do mundo, sendo que dos 17 critérios analisados Portugal tem o melhor desempenho no ponto 7, dedicado às energias renováveis. Comparando estes números com aqueles relativos à produção de energia em território nacional, segundo um relatório da REN, as fontes limpas representaram 45% do consumo total entre janeiro e setembro deste ano. A partir das fontes poluentes chegam 44%, enquanto os restantes 11% são resultado de importações.

“Portugal obtém quase metade da sua energia de fontes renováveis”, explicou recentemente o especialista Ramez Naam, na série “Inspirando o Futuro”, da SingularityU Portugal, acrescentando que, “sem quaisquer subsídios, as energias eólica e solar são mais baratas do que o carvão e o gás”. Segundo ele, esta é uma boa notícia para o país, porque o governo poderá criar oportunidades para o mercado competir na produção destas energias, baixando assim os preços e tornando-as cada vez mais utilizadas. “Geralmente, as pessoas compram a energia mais barata”, afiança, dando como exemplo a energia solar, cujo valor “caiu 250 vezes”.

Recuperando os dados da REN, que pode consultar na infografia abaixo, é possível perceber que apenas 4,4% da energia produzida a partir de fontes renováveis são provenientes de painéis fotovoltaicos. Talvez por isso o especialista defenda que “a má notícia é que [a transição de energia poluente para a limpa] não está a ser rápida o suficiente”. Apesar de tudo, as pistas parecem indicar que Portugal está no bom caminho, ainda que seja necessário continuar a apostar na produção de energias renováveis e em atingir o quanto antes o excedente nesta matéria.