O peso do conflito na Europa, associado aos impactos negativos da situação pandémica, obriga a uma aceleração geral dos objetivos rumo à neutralidade carbónica. Em particular na Europa, onde a dependência energética face a mercados externos – como a Rússia, no caso do gás natural – lembrou aos Estados-membros a importância de apostar nas energias renováveis. “Empresas como a nossa têm de se adaptar se quiserem sobreviver no longo termo. Mas a Galp não quer apenas sobreviver, queremos prosperar nesta transição e ir atrás das oportunidades”, afirmou Susete Patrício, Head of Renewables Project Development da Galp, durante o congresso internacional Energyear, que decorreu em Lisboa.
Porém, para que seja possível tirar proveito das oportunidades que o mercado oferece, será essencial resolver, primeiro, alguns dos desafios para a transição. Um desses desafios passa pela progressiva substituição da produção de petróleo e seus derivados pela produção de energias limpas, como o hidrogénio. A refinaria de Sines é exemplo disso mesmo – é aqui que a multinacional portuguesa está a reconverter o espaço “num parque verde com hidrogénio renovável, com biocombustíveis avançados, com combustíveis sintéticos e de menos carbono, e combustíveis sustentáveis para a aviação”. Aliás, neste último campo vale a pena recordar a recente apresentação pública da parceria entre a Galp, a TAP e a ANA - Aeroportos de Portugal, precisamente para o fornecimento de combustíveis verdes.
A transformação em curso na central de Sines é apenas a ponta do iceberg no que diz respeito à estratégia adotada pela produtora energética, que já tinha assumido o compromisso de atingir a neutralidade carbónica até 2050 – a mesma data definida pelo Estado português. “Estamos a alocar cerca de metade do nosso investimento a projetos de energias renováveis e de baixo carbono”, confirmou Susete Patrício durante o encontro de especialistas em energia. Esta aposta permitirá consolidar, e eventualmente evoluir, o estatuto de segundo maior produtor de eletricidade a partir de energia solar na Península Ibérica. Aliás, nas últimas semanas a Galp concluiu a operação de aquisição da totalidade das ações da Titan 2000 S.A., uma joint venture que juntava a empresa portuguesa e o Grupo ACS para a produção de energia solar fotovoltaica. Será mais um passo em direção ao objetivo traçado de atingir, até 2025, 4 GW e chegar aos 12 GW no final da década. “É emocionante estar na vanguarda de todas estas mudanças”, acrescentou a responsável durante o painel dedicado à análise da transição energética em Portugal.
O secretário de Estado de Ambiente e da Energia, João Galamba, esteve presente para a abertura do Energyear e lembrou a aposta nacional nas energias verdes. “Temos condições particularmente favoráveis para o desenvolvimento da instalação da energia renovável, nomeadamente hídrica, eólica e solar”, afirmou, sublinhando ainda a ambição de antecipar o cumprimento de alguns objetivos. “Pretendemos atingir – originalmente em 2030, mas pretendemos acelerar e fazê-lo mais cedo – pelo menos 9,3 GW e é isso que está previsto no Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC)”, garantiu.
Custo dos PPA está a subir
O encontro de especialistas em energia reservou ainda tempo para debater os PPA – Power Purchase Agreement (um acordo de longo-prazo entre o produtor de energia renovável e o comprador que estabelece um preço fixo de venda) e algumas das tendências registadas neste mercado. O painel contou com a participação de Nuno Silva, Head of Market Intelligence, Structuring & Analytics da Galp, que recordou o aumento dos custos das matérias-primas para justificar, em parte, o aumento do preço médio contratado nos PPA. De acordo com um estudo recente, entre meados de 2021 e meados de 2022, o preço subiu cerca de 25% para aproximadamente 50 euros por MWh. “O preço do lítio aumentou 6,6 vezes, o cobre 1,7 vezes e o preço do alumínio seis vezes. O custo de um projeto [de produção de energia renovável] ficou bastante mais elevado”, aponta.
Apesar de reconhecer que “a capacidade solar em Portugal aumentou bastante” nos últimos meses, Nuno Silva refere que em Espanha o aumento foi sete vezes superior. Na energia eólica, o crescimento no país vizinho foi mesmo dez vezes acima do registado em território nacional. Com os contratempos que o conflito na Ucrânia trouxe ao mercado energético, são hoje os vendedores de PPA quem tem a vantagem. “O que os vendedores querem é assinar PPA de curto-prazo para fazer este 'lock-in' dos altos preços do mercado e maximizar o seu retorno”, explica. A promessa de João Galamba e do Ministério do Ambiente e da Ação Climática para a simplificação dos processos de licenciamento, nomeadamente com a criação de um guia para ajudar os investidores e reduzir a burocracia, poderá contribuir positivamente para o aumento da capacidade instalada em Portugal, para uma maior dinâmica no mercado energético e, eventualmente, para a redução ou estabilização dos preços praticados.