Na rota de uma economia mais sustentável e centrada nas pessoas

Especialistas nacionais e internacionais de várias áreas reuniram-se numa grande cimeira realizada em Matosinhos, a que a Galp se associou como parceira para debater a construção de uma nova economia baseada na sustentabilidade e nas pessoas

Pode a economia garantir a satisfação das necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades? A pergunta foi o grande mote da discussão que, nos dias 11 e 12 de maio, reuniu gestores, políticos e pensadores no Fórum de Sustentabilidade e Sociedade, nos Paços do Concelho de Matosinhos, para debaterem a sustentabilidade como motor de uma nova economia, geradora de riqueza e que combate a exclusão dos mais pobres. Foram vários os oradores que deram a conhecer à audiência as suas ideias, entre eles Muhammad Yunus, Nobel da Paz 2006, Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República de Portugal, Kadri Simson, comissária europeia da Energia, Filipe Silva, CEO da Galp, Lee Hodder, vice-presidente da Galp para a Estratégia e a Sustentabilidade, e Georgios Papadimitriou, vice-presidente executivo da Galp para as Renováveis, Novos Negócios e Inovação.

O CEO da Galp, Filipe Silva, assinalou o valor do investimento da energética em Sines, reforçando que se trata “do maior projeto industrial jamais visto” em Portugal

Revelando a forma como a Galp está a trabalhar a sustentabilidade, Filipe Silva, diretor executivo, afirmou que a empresa vai investir 2,2 mil milhões de euros no compromisso que a energética vai assumir para descarbonizar Sines, naquele que é, “de longe, o maior projeto industrial jamais visto” em Portugal. A empresa está a tentar que a refinaria de Sines “não sofra os mesmos efeitos que Matosinhos”, frisando que precisa de investir e de um ambiente competitivo justo.

Vamos ter de investir muito dinheiro em Sines, reforçou o CEO, assinalando que Matosinhos continua a funcionar como grande parque logístico, a abastecer todo o Norte do país e parte de Espanha e que quando a parte industrial fechou as emissões da Galp caíram 25%, pelo que ainda há 75% das emissões operacionais que têm de ser objeto de redução”.

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA ACELERA

Para aumentar o consumo das energias renováveis até 2030 e reduzir “a dependência do gás russo”, a comissária europeia da Energia, Kadri Simson, afirmou que os Estados-membros têm de acelerar” os investimentos em renováveis ou, no limite, em bens e serviços com baixo teor de carbono emitido. Elogiou, ainda, a visão de Portugal e de Espanha na criação de interconexões energéticas: Portugal é um dos casos que vai precisar deste tipo de investimento para reforçar a capacidade energética e os projetos de interconexão entre Portugal e Espanha serão decisivos”.

Georgios Papadimitriou destacou a inevitabilidade da transição energética para que a meta europeia possa ser atingida

Na altura parecia demasiado ambicioso e aqui estamos, em 2023, no meio desta crise global climática e de um tumulto provocado por um conflito armado. E dissemos, enquanto Europa, no ano passado, que queríamos passar a 42% de energias renováveis apenas em sete anos. É um número inacreditável”, assinalou.

Para se atingir a meta europeia definida, Georgios Papadimitriou defendeu a necessidade de as ações no terreno terem custos acessíveis”, até porque não é possível libertar-nos de um dia para o outro dos combustíveis fósseis”. A transição energética é “inevitável”, garantiu.

COLOCAR PORTUGAL A LIDERAR NO LÍTIO

Lee Hodder, vice-presidente para a Estratégia e a Sustentabilidade, destacou que o processamento de lítio poderá para colocar Portugal como líder” no setor, confirmando o interesse da empresa nesta área, referindo que este é um exemplo de uma cadeia de valor completamente nova para o país, que acreditamos que pode realmente ajudá-lo a tornar-se um dos líderes desse setor na Europa”.

Para impulsionar uma transição mais justa para todos, a Galp não está só a olhar para os negócios diretos. “Temos de garantir que aprendemos com as experiências e de olhar para os locais – à medida que importamos óleos usados de lugares na Ásia ou lítio para refinação –, sobre a forma como impactamos as comunidades ao redor do mundo”, afirmou o vice-presidente para a Estratégia e a Sustentabilidade.

Para Lee Hodder, o nosso país poderá liderar o setor do processamento de lítio

DISCURSOS HUMANISTAS

O inspirador Muhammad Yunus, fundador do banco Grameen– o primeiro no mundo especialista em microcrédito para garantir financiamento aos mais desfavorecidos – e vencedor do Nobel da Paz em 2006, considerou que em vez do emprego ser o objetivo maior, o grande objetivo da sociedade deveria ser empreender”. Na opinião do laureado, quando se é empreendedor tem-se o poder nas mãos”, parece que nada é impossível para o ser humano e tudo o que tem a fazer é abrir a mentalidade”. Para Yunus, ser empreendedor é ter poder e ter liberdade, é estar no comando”, já um emprego pode ser uma escravidão”.

Muhammad Yunus, defendeu, em Matosinhos, uma mudança radical de paradigma na economia, em prol da sustentabilidade da vida no planeta

Por fim, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que a sustentabilidade é para as pessoas” e não é para “ter metas melhores”, deixando o aviso de que ou introduzimos a perspetiva das pessoas ou corremos o risco de perder a visão do essencial”.