É alentejana de gema, nascida em Beja, mas tem raízes profundas no interior do Algarve, entre Alcoutim, Martim Longo e Castro Marim. Foi nesta terra de salinas que, num dia quente de agosto, a fomos encontrar, ao leme da Odiana, a Associação para o Desenvolvimento do Baixo Guadiana, e onde tem feito um trabalho meritório em prol da comunidade local desta região algarvia.
Do que faz, fala com a paixão que descobriu quando foi voluntária numa central de Socorro e Emergência, em Faro, enquanto se licenciava em Sociologia, na Universidade do Algarve. Uma vez concluído o curso e sem saber ainda em que ramo se iria especializar, resolveu fazer uma pausa sabática, continuando na Cruz Vermelha Portuguesa, onde acabou a coordenar os serviços da central. Foi aí que o bichinho pela Gestão de Recursos Humanos despertou. “Achei que o meu caminho seria por ali e decidi candidatar-me a mestrado na área”, conta esta socióloga de 34 anos, que, entretanto, juntou à bagagem um segundo mestrado em Desenvolvimento Comunitário e Empreendedorismo.
Não querendo ficar por aqui, o próximo objetivo é o doutoramento, possivelmente no ramo da Psicologia ou da Sociologia das Organizações ou da Gestão e Administração, um sonho “adormecido” que continua na fila de espera para ser concretizado: “Talvez em 2025, é uma questão de oportunidade, falta só um bocadinho”, afirma, categórica, entre risos.
Do socorro e emergência à área social e ao ensino
Depois de ter trocado a área do socorro e emergência pela social, ao longo da última década Catarina começou a construir uma nova carreira cheia de diferentes desafios que agarrou sempre com garra: passou pela Câmara Municipal de Alcoutim, tendo participado na implementação da Universidade Sénior local, seguiu para o Instituto de Emprego e Formação Profissional de Faro, voltando ao Município de Alcoutim ligada ao projeto Contrato Local Desenvolvimento Social que não chegou a terminar por ter surgido o convite para integrar a Odiana, em 2022. Aqui, lidera uma equipa pequena de apenas 11 colaboradores que se dividem entre o trabalho administrativo e no terreno, pelo que faz o que for preciso para levar a bom porto todos os projetos que a associação tem em carteira, desde a gestão do serviço aos recursos humanos, ao acompanhamento e à realização de atividades junto da população.
O ano passado foi convidada para lecionar duas unidades curriculares – Comportamento Organizacional e Gestão de Recursos Humanos para hotelaria na licenciatura de Marketing – na Universidade do Algarve, mais concretamente na Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo, “uma oportunidade única e que não podia desperdiçar”.
Dar mais vida às populações e às localidades
A Odiana trabalha sobretudo com projetos que envolvem todas as áreas do desenvolvimento e promoção do território que abrange e que incluem a gestão de uma rede de percursos pedestres e da Grande Rota do Guadiana (de Vila Real de Santo António a Alcoutim), bem como a recente rede de cruzeiros fluviais transfronteiriços (em parceria com Espanha). Na lista está, ainda, a promoção de produtos agroalimentares endógenos – de que são exemplo o sal de Castro Marim, a alfarroba e a amêndoa –, e, entre outros, o Vilas em Movimento, lançado em 2023 em parceria com a Fundação Galp.
Este projeto, dirigido a todo o concelho de Alcoutim, abrange duas vertentes, a da mobilidade, através da implementação de um sistema de bicicletas partilhadas na vila de Alcoutim, e a social, em que se destaca a requalificação do Espaço Mobilidade em Martim Longo, que alia exercício físico e saúde/reabilitação física, além da realização de workshops com temas muito diversos para estimular a criatividade, o artesanato e as tradições culturais, numa ótica de promoção do bem-estar social da comunidade, entre eles costura, cestaria, tecelagem, flores, e de sessões informativas de proximidade dirigidos à população. “Nós dinamizamos atividades quase monte a monte, o território é muito grande, a população está, por isso, muito dispersa e a mais idosa não tem facilidade em se deslocar. É uma forma de combatermos, igualmente, o seu isolamento. Recorremos muitas vezes à ajuda da GNR (Guarda Nacional Republicana) – com quem estamos, neste momento, a desenvolver sessões sobre roubos e furtos –, dos Bombeiros, do Centro de Saúde e de outras entidades. Também estamos a dinamizar, sempre que possível, ações culturais, como sessões de cinema e de teatro, e a equacionar outras, nomeadamente magia. Até agora, está a correr muito bem, estamos a conseguir atrair cada vez mais pessoas, abrangendo um universo entre as 400 e as 500, e o feedback é muito positivo”, exemplifica.
Consolidada a primeira fase, o Vilas em Movimento está agora a preparar-se para atingir outros públicos, com um plano de atividades para 2025 feito a pensar não só na população mais envelhecida como também na mais jovem, incluindo as escolas, e, até, ações de convívio intergeracionais. “O objetivo é avançar para a educação ambiental e outras temáticas, não só com as crianças como com os idosos em conjunto, com atividades que sejam compatíveis para ambos os grupos. Por exemplo, os mais novos ensinarem aos mais velhos sobre a importância da sustentabilidade e das energias ‘verdes’ e por sua vez, estes transmitirem aos jovens tudo o que sabem sobre artes e ofícios de antigamente que se estão a perder”, revela a diretora-executiva da Odiana com aquele brilhozinho nos olhos de quem se orgulha do seu contributo para este projeto transformador.
Percurso profissional e pessoal no coração rural
Nenhum dia é igual a outro, mas todos são muito preenchidos. Quando consegue “desligar”, o pouco tempo que diz ter para si dedica-o em grande parte ao desporto. Ou em casa, onde tem algum equipamento de ginástica para se exercitar, ou a fazer caminhadas (às vezes uma corrida) adentrando-se num dos trilhos existentes na região geridos pela Odiana.