Foi no antigo Bairro da Sacor, atualmente conhecido por Bairro da Petrogal, que fomos ao encontro de Paula Morgado. O bairro, construído na Bobadela-Sacavém na década de 60 do século passado para os trabalhadores daquela companhia petrolífera que está na génese da Galp, é, ainda hoje, a sua “casa”. Ali entrou com apenas 5 anos de idade e frequentou o jardim de infância e a escola; já adolescente, foi onde conheceu o futuro marido, também ele colaborador da Petrogal, e mais tarde se casou, precisamente na mesma igreja onde viria a batizar os filhos que, entretanto, nasceram. Presentemente, o bairro já não pertence à companhia, mas é ali também que todos – já vai na quarta geração – continuam a morar. As recordações dos tempos passados, no fundo, de toda uma vida, são muitas, desde os convívios às colónias de férias e de passar os verões na rua a brincar, onde fez amigos que ainda agora perduram. “É muito bom encontrarmos colegas dessa época, de quem sou amiga há muitos anos, e continuarmos com aquele espírito de vizinhança e de união que sempre existiu entre nós. Uma das minhas grandes amigas andou comigo no jardim de infância”, afirma a gestora de projetos de responsabilidade social da Galp para quem habitar no bairro era como viver numa pequena aldeia onde todos se conhecem e entreajudam.
“A área do impacto social é a minha cara”
A ligação de Paula Morgado à Galp corre-lhe no sangue, desde criança, com vários familiares a trabalhar na companhia. A história desta gestora de projetos de responsabilidade social é um testemunho de dedicação à empresa e à comunidade que moldou a sua identidade profissional e pessoal e que vale a pena conhecer
Do ensino para a energia
O destino parecia estar traçado. A ligação de Paula à companhia tem, assim, raízes profundas. Adensaram-se ainda mais quando, um dia, dava ela aulas de Trabalhos Oficinais no Liceu Maria Amália, o pai, funcionário da Petrogal, a desafiou a juntar-se à energética, que, na época, estava a abrir vagas de emprego, já lá vão 43 anos. A busca por estabilidade para poder constituir família que a profissão de professora não lhe oferecia levou-a a não olhar para trás e a partir à descoberta de uma carreira completamente diferente, com a garantia de segurança de que necessitava: “A Galp era uma empresa que já na altura inspirava confiança e segurança”, reforça.
Candidatou-se e entrou. As instalações do Pátio do Pimenta, em Lisboa, abriram-lhe então as portas para trabalhar no Centro de Documentação, “para ajudar no que fosse necessário”, recorda Paula Morgado, que ainda tem na memória o facto de todo o trabalho ser muito manual, em que se datilografava em “velhas” máquinas de escrever, e a primeira vez em que se sentou em frente a um computador, uma novidade desafiante do início dos anos 90. Foi uma fase de grandes mudanças. Das pessoas que a acolheram guarda também lembranças felizes: “Éramos uma grande família que se preocupava uns com os outros no dia a dia, além de convivermos em momentos especiais, como aniversários, em que havia sempre um bolo para comemorarmos juntos. Ao longo do tempo, fui fazendo grandes amizades”.
Após o Centro de Documentação, seguiu-se o departamento das Relações Externas, passando para a sede, na altura na Rua das Flores, depois a Mouzinho da Silveira, o Marquês de Pombal, a Tomás Ribeiro, as Torres de Lisboa e, mais recentemente, o edifício Allo, em Alcântara. Começou por ter a cargo a comunicação com o exterior, que incluía a publicidade, as feiras, os relatórios e contas, entre outras tarefas, um trabalho que relata ter sido exigente, mas ao qual se dedicou de corpo e alma até abraçar, em 2018, um novo desafio: a área do voluntariado, a qual assume ser uma “verdadeira paixão". “Gostei muito de trabalhar a comunicação social, que obriga a muita experiência para lidar com as situações. Um período difícil e ao mesmo tempo engraçado, mas foi no voluntariado que descobri a minha vocação. É gratificante ver o sorriso na cara das pessoas que estamos a ajudar com as ações que desenvolvemos e que lhes levam um pouco de felicidade”, diz, com aquele orgulho de quem ama, de coração, o que faz. “Conhecer a realidade do que se passa hoje em Portugal em termos sociais impressiona, pelo que saber que estamos a dar um contributo positivo a uma causa ou a alguém deixa-nos muito satisfeitos”, conclui.
Alma solidária
Fora dos escritórios da Galp, Paula Morgado dedica grande parte dos seus tempos livres à comunidade do seu Bairro da Petrogal, mais concretamente à paróquia local, onde faz parte do coro. “Adoro cantar, não que tenha grande voz [risos]. Temos um grupo espetacular, com bateria, o que não é normal ver-se num coro”, descreve a gestora de projetos que, desde há 9 anos, não tem perdido peregrinações a Fátima organizadas pela mesma paróquia. Além disso, dá apoio aos dois netos, gosta de ler, de ver filmes e de fazer croché, uma arte que espera conseguir ensinar à neta, “pois a minha filha não quis aprender”.
Para já, Paula nem sequer pensa em reformar-se, mas, quando acontecer, de uma coisa tem a certeza: “Pretendo continuar a apoiar quem precisa. Acho que nunca vou deixar o voluntariado, há muitas instituições que precisam de voluntários e eu quero estar lá”.