“É preciso tornar a economia resiliente”

No pós-covid, o país precisa de ultrapassar desafios. Crescer de forma sustentada e atrair investimento internacional de qualidade, para construir um tecido industrial e empresarial variado que não assente excessivamente em determinados setores, são algumas das prioridades, acredita Teresa Abecasis, administradora da Galp

Resiliência é uma das palavras que entrou no léxico dos portugueses ao longo da pandemia, aplicada à capacidade de resposta do SNS à covid-19, das empresas aos constrangimentos de fechos, confinamentos e outras dificuldades, mas também da economia. Para Teresa Abecasis, “é necessário tornar a economia resiliente a vários choques”, disse durante a sua participação na 21.ª Conferência Executive Digest, que decorreu recentemente no Museu do Oriente, em Lisboa. Para a administradora, este não é um desafio novo, mas, nesta altura, é mais urgente definir soluções devido ao contexto que vivemos.

Pessoas no centro

No pós-covid, acredita Teresa Abecasis, estar atento às pessoas é essencial. “Temos de ver realmente o que é que mudou na forma como as pessoas veem o mundo, porque viveram dois anos de uma realidade totalmente diferente”. E esta realidade, defende, criou um conjunto de novos desafios para as pessoas, mas também para as empresas. “As pessoas descobriram coisas que não sabiam, muitas não querem voltar para os escritórios, querem continuar a ter a sua autonomia, porque a descobriram neste período”.

Para Teresa Abecasis, o reforço da cultura e do espírito de equipa será fundamental para reter o talento

Já do lado das empresas, o desafio da coesão é uma das prioridades no período que vivemos. O reforço da cultura e do espírito de equipa será fundamental para manter as pessoas motivadas e para reter o talento. “Penso que o desafio do talento é um dos que se agudiza no pós-covid porque precisamos ainda mais do que antes de pessoas que consigam acelerar um processo de transformação e de transição”, salienta Teresa Abecasis.

A reconversão de talentos será também uma medida importante a que as empresas devem estar atentas, pois alguém que não está motivado com o que faz, poderá ser um muito melhor profissional noutra área. Um caso flagrante, exemplifica a administradora da Galp, são as mulheres na tecnologia: todas as estatísticas mostram que, a partir dos 15 anos, há um abandono grande das raparigas nas áreas das ciências, matemáticas e tecnologias, porque escolhem outras realidades. “É um desperdício muito grande e 80% destas profissões acabam por ser ocupadas por homens. Mas nós sabemos que há aqui um potencial muito grande e se conseguíssemos equilibrar isto, teríamos um pool muito grande de talento para as áreas da tecnologia e ciência”.

“O desafio do talento é um dos que se agudiza no pós-covid porque precisamos ainda mais do que antes de pessoas que consigam acelerar um processo de transformação e de transição”

Esta escassez de talento para as áreas críticas é um problema que Portugal tem e é outro grande desafio destacado por Teresa Abecasis. “Mas Portugal tem coisas muito boas que também devia trabalhar de forma mais proativa e assertiva”. Conforto, segurança, ou centralidade em relação ao mundo são vantagens nacionais que destaca. “Temos essas mais valias para oferecer ao talento internacional para se fixar em Portugal. E hoje já não há barreiras à comunicação, portanto, é possível trabalhar com equipas multidisciplinares em qualquer parte do mundo, com base em Portugal”.

No fundo, na perspetiva da responsável da Galp, Portugal tem que aproveitar estas forças para conseguir melhorar a qualificação das pessoas, toda a estrutura e toda a administração pública e forma de funcionamento das empresas, para conseguir criar mais valor.

A importância da liderança, e o exemplo da Galp

A liderança é essencial para uma estratégia de recursos humanos bem-sucedida. Na Galp, destaca Teresa Abecasis, a estratégia de pessoas foi recentemente redefinida e assenta em vários pilares estratégicos que estão agora a ser trabalhados e lançados na empresa. A liderança é um destes pilares, uma vez que “os líderes têm uma responsabilidade muito grande, e têm de saber realizar essa responsabilidade junto das suas pessoas e, portanto, estamos a investir bastante nisso, em capacitar os nossos líderes para conseguir desenvolver as suas pessoas, definir as prioridades certas, conseguir traçar um rumo, e levar as pessoas atrás de si nesta melhoria do trabalho”.

Um segundo pilar, que também está a ser trabalhado intensamente na Galp, é o da cultura. “Queremos ser uma empresa que promove a mudança, queremos ser game changers. Olhar para o futuro e começar a atuar agora”, conclui Teresa Abecasis.