A promessa de uma Europa mais verde, sustentável e responsável está no eixo central da liderança de Ursula von der Leyen na Comissão Europeia, que se comprometeu a dar corpo à estratégia ecológica do Green Deal nos primeiros 100 dias de mandato. O pacote de medidas está a ser coordenado pelo vice-presidente, Frans Timmermans, que já anunciou a intenção de incluir a utilização da bicicleta no financiamento europeu.
A concretizar-se, o fomento à aquisição destes veículos integrará os instrumentos associados à criação de um milhão de postos de carregamento elétrico e a infraestruturas de transporte sustentáveis, em que se incluem as ciclovias. A rubrica dedicada à mobilidade urbana do Pacto Ecológico Europeu deverá contar com 20 mil milhões de euros. Contudo, e apesar do entusiasmo declarado do setor, a CONEBI – Confederação da Indústria Europeia de Bicicleta lembra que “o processo está longe de terminar porque esses anúncios precisam de se transformar em planos e orçamentos que podem ser distribuídos pela UE”.
Em Portugal, o Ministério do Ambiente e da Ação Climática aprovou, já este ano, um reforço ao Incentivo pela Introdução no Consumo de Veículos de Baixas Emissões, que contempla apoio financeiro específico para a aquisição de bicicletas, convencionais e elétricas, para empresas e cidadãos. No caso das versões elétricas, o Fundo Ambiental comparticipa 50% do valor de compra até um limite de 350 euros e 10% até um limite de 100 euros para bicicletas convencionais.
Já durante a pandemia da covid-19, também Fernando Medina anunciou a criação de um programa para incentivar a compra deste meio de transporte para os habitantes de Lisboa, que pode ser acumulado com o disponibilizado pelo Governo. A cidade, que este ano é Capital Verde, vai financiar, através do fundo de mobilidade, até 50% do valor de aquisição: até 100 euros para bicicletas convencionais (exclusivo para estudantes), até 350 euros para as elétricas e até 500 euros para veículos de carga. No total, a dotação deste pacote ambiental atinge os 3 milhões de euros.
Pandemia acelerou o negócio
O impacto inicial da covid-19 em Portugal obrigou à interrupção da atividade da Esmaltina, empresa de Sangalhos especializada na montagem de bicicletas, mas ao fim de duas semanas os trabalhadores estavam de regresso à linha de produção. Paulo Lemos explica que começou a receber múltiplas encomendas do estrangeiro, uma boa surpresa que obrigou o administrador a contratar 30 colaboradores para ajudar a responder à procura. Habituado a exportar cerca de 80% da produção, assiste agora ao crescimento da empresa com cinco décadas de existência à boleia de países como Espanha, Reino Unido, França e Alemanha.
Proprietário de uma loja especializada em venda e manutenção de bicicletas, Carlos Siopa diz-se surpreendido pela onda de clientes que, nos últimos meses, procurou a CCBikes, em São Domingos de Rana, para começar ou voltar a pedalar. “Não estava à espera”, admite.
Em apenas uma semana esgotou o stock próprio e já está a fazer encomendas ao fornecedor de Taiwan para 2021. Além das vendas terem disparado em período de pandemia, Carlos Siopa garante mesmo que nunca, em mais de vinte anos no mercado, tinha assistido a um fenómeno desta dimensão. A explosão da procura fez destes últimos meses os melhores de sempre para a CCBikes, atesta.
“Não tinha mãos a medir com a manutenção”, explica à Energiser, acrescentando que esta é cada vez mais uma alternativa aos transportes públicos em tempo de covid-19. Quem tinha bicicletas paradas e quase esquecidas, voltou a olhá-las como uma forma de fugir à concentração de pessoas nos autocarros e comboios, recuperando a vontade de pedalar.
Sobre a criação de instrumentos europeus de financiamento para a aquisição, Siopa acredita que será uma forma de manter a procura e fomentar o crescimento do mercado nacional.