Miguel Gomes é surdo e está habituado a tratar da horta e dos animais da quinta social da Associação de Surdos da Ilha de São Miguel (ASISM). Nos tempos livres, gosta de fazer o que toda a gente faz, como passar tempo com os amigos ou, simplesmente, ficar em casa a descansar. Mas este ano foi diferente. Desafiado a participar no projeto musical Som Sim Zero, aceitou sair da sua zona de conforto para abraçar a aventura de aprender, ensaiar e fazer parte de uma banda composta por ouvintes e não ouvintes. A experiência mudou as suas rotinas e apesar do mundo de silêncio em que está rodeado, Miguel sente a música a pulsar dentro de si, com as suas vibrações, batidas e ritmos, ao ponto de gostar de vir a ser DJ.
Miguel Gomes é um dos novos elementos do projeto Som Sim Zero
Esta é a história de um dos mais recentes elementos a integrar a orquestra que investiga os limites do som, da palavra, da música e da linguagem desta arte que muda vidas e toca no coração das pessoas.
PROJETO PIONEIRO TRANSFORMADOR
Foi há cinco anos que o coletivo artístico ondamarela desenvolveu um projeto pioneiro de inclusão social em parceria com a Escola de Música de Rabo de Peixe e a ASISM, iniciativa que teve o apoio da Fundação Galp desde o primeiro momento. Explorando a relação dos surdos com o som e o espaço, este projeto pretende sensibilizar a sociedade para a problemática da surdez ao mesmo tempo que desmistifica a forma como estas pessoas sentem a música, mostrando que conseguem fazê-lo em pé de igualdade com os ouvintes.
No início, eram poucos, mas depressa o grupo evoluiu, com novos membros a juntarem-se a esta bonita história de afetos que começou a ser contada em 2019, e se notabilizou. Em 2022, os Som Sim Zero saíram da ilha para tocar e encantar no Rock in Rio de Lisboa.
